
domingo, novembro 26, 2006
Pensées
"(...)Il y a des situations auxquelles je n'échappe pas, des problèmes auxquelles je suis confronté comme tout un chacun... je n'ai pas de très bons mécanismes de défense, aussi, plutôt que de passer mes journées dans une introspection morbide, à me dire «la vie est trop courte, cruelle et vaine», je travaille beaucoup, je joue de la clarinette, j'écris, je regarde les matches de basket-ball, je m'occupe, je cherche à maintenir l'équilibre à tout-prix, à me distraire au sens propre.(...)"
Woody Allen
sexta-feira, novembro 10, 2006
Lost in Translation

“Não se deixe perturbar na sua solidão pelo facto de sentir veleidades de a abandonar. Utilizadas com calma e reflexão, essas tentações devem mesmo ajudá-lo como instrumento susceptível de alargar a sua solidão a um país ainda mais rico e ainda mais vasto.”
Rainer Maria Rilke, “Cartas a um jovem poeta”
“Lost in Translation” de Sofia Coppola apresenta a ideia de solidão em oposição à sociedade global, à qual pertencem as duas personagens principais do filme. É um filme que nos fala também da amizade e do amor. Bob e Charlotte sentem-se sozinhos e perdidos, num país desconhecido cuja língua não entendem, e precisam de alguém que os compreenda, precisam ambos de um amigo. Num hotel de Tóquio, os personagens centrais encontram-se por acaso. Ambos estão aí hospedados. Charlotte, uma recém-graduada em filosofia, acompanha o seu marido nas viagens de negócios e aproveita para conhecer um pouco mais do Japão; Bob, um famoso actor, que está em decadência, é contratado pelos japoneses para fazer uma publicidade a um uísque. Estando os relacionamentos dos dois enfraquecidos, ambos procuram alguém que os ouça, que lhes acompanhe os passos. Bob troca poucas palavras com a esposa, falando apenas sobre alguns aspectos decorativos na sua casa e sobre os filhos, o que acentua gradativamente a sua solidão num local estranho. Charlotte passa o tempo sozinha, ou no hotel, ou nas ruas de Tóquio, já que o seu marido se encontra quase sempre a trabalhar. Mesmo nos momentos em que estão juntos e rodeados de pessoas, Charlotte não se integra naquelas vivências fúteis do marido e dos seus amigos, sentindo-se continuamente só. Quantas vezes não nos sentimos sós num lugar repleto de pessoas, como se algo faltasse para completar a felicidade que tanto desejamos?
Charlotte e Bob encontram-se no bar do hotel e começam a partilhar pensamentos, ideias, desabafos, acabando por se tornarem amigos, tendo a sua amizade um toque colorido. Ambos se tentam encontrar, afastando o desenraizamento absoluto e a solidão. A separação final de Charlotte e Bob, apesar da sua crueldade, relembra-lhes a realidade mas uma realidade repleta de portas por abrir e de novos caminhos a escolher.

Um excelente filme sobre o amor, a amizade, as relações humanas, o casamento, a solidão, o desenraizamento, a globalização e a invasão das novas tecnologias. Temas estes que são abordados com subtileza e talento. Um filme, sem dúvida, belo que nos faz meditar também nas nossas próprias vidas.
The more you know who you are, and what you want, the less you let things upset you.
Rainer Maria Rilke, “Cartas a um jovem poeta”
“Lost in Translation” de Sofia Coppola apresenta a ideia de solidão em oposição à sociedade global, à qual pertencem as duas personagens principais do filme. É um filme que nos fala também da amizade e do amor. Bob e Charlotte sentem-se sozinhos e perdidos, num país desconhecido cuja língua não entendem, e precisam de alguém que os compreenda, precisam ambos de um amigo. Num hotel de Tóquio, os personagens centrais encontram-se por acaso. Ambos estão aí hospedados. Charlotte, uma recém-graduada em filosofia, acompanha o seu marido nas viagens de negócios e aproveita para conhecer um pouco mais do Japão; Bob, um famoso actor, que está em decadência, é contratado pelos japoneses para fazer uma publicidade a um uísque. Estando os relacionamentos dos dois enfraquecidos, ambos procuram alguém que os ouça, que lhes acompanhe os passos. Bob troca poucas palavras com a esposa, falando apenas sobre alguns aspectos decorativos na sua casa e sobre os filhos, o que acentua gradativamente a sua solidão num local estranho. Charlotte passa o tempo sozinha, ou no hotel, ou nas ruas de Tóquio, já que o seu marido se encontra quase sempre a trabalhar. Mesmo nos momentos em que estão juntos e rodeados de pessoas, Charlotte não se integra naquelas vivências fúteis do marido e dos seus amigos, sentindo-se continuamente só. Quantas vezes não nos sentimos sós num lugar repleto de pessoas, como se algo faltasse para completar a felicidade que tanto desejamos?

Charlotte e Bob encontram-se no bar do hotel e começam a partilhar pensamentos, ideias, desabafos, acabando por se tornarem amigos, tendo a sua amizade um toque colorido. Ambos se tentam encontrar, afastando o desenraizamento absoluto e a solidão. A separação final de Charlotte e Bob, apesar da sua crueldade, relembra-lhes a realidade mas uma realidade repleta de portas por abrir e de novos caminhos a escolher.

Um excelente filme sobre o amor, a amizade, as relações humanas, o casamento, a solidão, o desenraizamento, a globalização e a invasão das novas tecnologias. Temas estes que são abordados com subtileza e talento. Um filme, sem dúvida, belo que nos faz meditar também nas nossas próprias vidas.
The more you know who you are, and what you want, the less you let things upset you.
"Lost in Translation"
terça-feira, novembro 07, 2006
Palavras soltas...

Nos seus dedos esguios, o cigarro extinguia-se ao ritmo das batidas do seu relógio de pulso. À sua frente um lençol ondulante que, por vezes, lhe vinha beijar os pés timidamente. As ondas afagavam-lhe a pele e aquele rendilhado pérola salgado escondia-se por detrás dos dedos. Abraçou o cigarro sofregamente naquele momento, sem pensar na água gelada que lhe encarquilhava o corpo. O sabor acre povoava-lhe a memória. Tudo devia ficar nas brumas de forma a que não pudesse aceder aos seus fantasmas. Tudo devia permanecer tal qual lago estagnado, envolto pela névoa da manhã. Mas era mais forte do que tudo. Enervava-lhe a arrogância dos ignorantes, odiava aquele culto mesquinho do material e do individualismo, abominava aquelas pequenas violências camufladas incutidas gradualmente em almas impregnadas ainda de ingenuidade, condenava aquela intromissão contínua no seu ser... O ósculo final ao cigarro esbateu toda a caldeirada de emoções que a entontecia. Levantou-se, ficando envolta numa poeira de pequenos fogos de artifício que se desfaziam no ar ou no mar. Subiu a um rochedo coberto por um musgo convidativo e voltou a recordar aqueles que não sabem e julgam saber. Seria possível viver assim, noite e dia, com a mente fechada mas inundada de preconceitos e contradições? Seria possível ser apologista de uma qualquer religião baseada nos conceitos do bem quando se preconizava precisamente o contrário? Seria possível que não acreditassem que a vida é um caminho feito de aprendizagens, é um caminho onde se vão coleccionando experiências? Seria mesmo possível que acreditassem já ter todas as respostas? Passou as mãos níveas por entre os curtos cabelos pretos, escondendo-os dentro de um boné quadriculado. Pintou os lábios de um vermelho vivo e avançou pela praia,deixando o seu rasto decidido pelo areal.
(Foto:Teresa Garcia)
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