
Percorro, de memória, os caminhos empedrados da velha Coimbra. O odor dos lençóis brancos acabados de lavar esvoaça por cima de mim e dos gatos que cirandam, com miares desconsolados, pelas ruelas desertas de pessoas e de comida. Os edifícios decrépitos vigiam os meus passos, conscientes das dores que o tempo lhes traz. Aprecio perder-me nestes meandros onde se misturam cheiros húmidos e história, onde se encontram pequenas tabernas repletas de velhotes de boné, de onde saltitam pequenas lojinhas ou antigas livrarias. Por detrás de um murinho carcomido, o Mondego sereno e as copas loucas das tílias do Parque.
Gosto da vida de rua mas de uma vida de rua particular, das tuas ruas, Coimbra! Calçadas portuguesas a subir e a descer; calçadas e ruas refulgentes no Verão, amenas na Primavera, escorregadias no Inverno e repletas de folhas secas no Outono.
Chamem-lhe saudosismo, chamem-lhe masoquismo, mas eu gosto de continuar a sofrer por ti, Coimbra! Inebria-me a recordação dos teus jardins, das tuas casas, dos teus monumentos seculares, dos teus pequenos recantos que só tu e eu conhecemos! Embriaga-me a lembrança de brincadeiras à sombra de pomares grávidos de oliveiras, de cafés e bolos tragados na Baixa, dos passeios com os meus pais nos lagos dos cisnes, na Avenida Sá da Bandeira.
Percorro, de memória, as tuas vielas de odor a infância, e sorrio, Coimbra.